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sábado, 14 de abril de 2012

GTO Marias do Brasil com Taís Araújo para o programa “Fantástico”



 
O Grupo de Teatro do Oprimido Marias do Brasil existe desde 1998. Formado por trabalhadoras domésticas, as atrizes – cada uma de um estado brasileiro – chamam-se MARIA. Já produziram 4 peças de Teatro-Fórum. Se apresentaram até no Congresso Nacional – na ocasião levaram abaixo assinado para que o FGTS seja um direito das domésticas. Em 2008 ganharam o prêmio Inclusão Cultural da Pessoa Idosa, concedido pelo Ministério da Cultura.
Essas mulheres, mães, tias, avós, bisavós, filhas, além de empregadas domésticas são atrizes, ou seja, atuam nos palcos e na vida. Na última quarta-feira, 11 de abril, elas receberam, na sede do Centro de Teatro do Oprimido – CTO, a consagrada atriz Taís Araújo que interpretará uma trabalhadora doméstica na próxima novela das sete da TV Globo, “Cheias de Charme”. Assim como as Marias do Brasil, na trama a personagem, Maria da Penha, será também uma artista.
Taís passou o dia inteiro entrevistando as Marias do Brasil para o programa jornalístico Fantástico, da TV Globo. A entrevista será exibida no próximo domingo, 15/04, no quadro Repórter por Um Dia.
Sobre as Marias, em entrevista concedida para o CTO, Taís lamentou que o grupo esteja sem patrocínio. Neste bate papo exclusivo, a atriz falou ainda sobre preconceito racial, sua visão do trabalho doméstico no Brasil e revelou que gostaria de conhecer mais o Teatro do Oprimido.
Outra atriz que também nos concedeu entrevista foi Maria Izabel Lourenço. Natural de Campos dos Goytacazes, interior do Estado do RJ, Maria Izabel trabalha há 15 anos como empregada doméstica e a 4 faz parte do Grupo Marias do Brasil. A conversa aconteceu por telefone, pois Maria Izabel estava no trabalho e segundo ela, só seria possível falar estando sozinha na casa dos patrões. “Se tivesse alguém aqui certamente iriam reclamar”, afirmou. Entre seus maiores desejos, sonha com todos os direitos trabalhistas assegurados para todas as trabalhadoras domésticas. A integra das duas entrevistas segue abaixo.

* Entrevista com Taís Araújo


CTO – No Brasil, o trabalho das empregadas domésticas está relacionado à função que as mucamas (escravas domésticas) desempenhavam. Alguns estudos indicam que as injustiças sofridas pelas trabalhadoras desse setor se devem a isso. No s eu trabalho de atriz, você interpretou uma mucama, a escrava Xica da Silva – a qual foi protagonista da novela homônima - e agora vai realizar o papel de uma trabalhadora doméstica - também como uma das três protagonistas da trama. Como percebe essa relação entre a função realizada pelas trabalhadoras domésticas co m o antigo trabalho das mucamas? Acha que é ainda um trabalho escravo?
Tais Araújo - Primeiro que tem uma grande diferença. Pois as trabalhadoras domésticas recebem salário. Com relação ao trabalho escravo, isso depende muito da casa onde a pessoa vai trabalhar, depende dos patrões. Sei que há muitos casos em que as empregadas recebem apenas casa e comida, principalmente no interior. Nos centros urbanos eu acredito que essa relação já está bem melhor. Eu posso falar da minha relação com essas profissionais: lá em casa a relação com a babá e com a outra pessoa que trabalha lá é a melhor possível. São ótimas pessoas e ótimas profissionais.
CTO – Em entrevista a revista TPM (edição dezembro de 2011) você declarou que quando estudou num determinado Colégio Particular, algumas pessoas perguntavam se a patroa da sua mãe era quem pagava a mensalidade. O que acha desse tipo de pergunta? Necessariamente estava implícito que sua mãe era uma empregada doméstica por você ser uma aluna negra?

T.A – A Gente vive num país muito preconceituoso, né! Teve um episódio engraçado dias desses no condomínio onde minha mãe mora. Ela foi fazer faxina na casa dela e colocou umas roupas mais simples, roupas de fazer faxina. Então EStava ela com balde na mãe, escova… aí alguém tocou a campainha, olhou para ela e falou “a patroa estar?”. Minha mãe virou e disse: “A patroa sou eu, pois não.”
CTO – Voltando a falar sobre a novela, você fará uma trabalhadora doméstica que se transformará numa artista da música. Já sabe como será reviravolta da personagem. Ela abandonará a carreira de trabalhadora doméstica?

T.A – A Penha (Maria da Penha) minha personagem é muito guerreira. Ela não vai abandonar a carreira de empregada doméstica não. Ela gosta do que faz, gosta do trabalho dela. Ela vai tirar uma onda com esse lance de cantora. Não para ficar famosa. Ela vai aproveitar para comprar a casa dela, a casa que ela tanto sonha, mas não vai abandonar a carreira de doméstica não. Ela vai aproveitar e tira uma onda.

CTO – O que achou do Grupo de Teatro do Oprimido Marias do Brasil? Trabalhadoras domésticas que se tornaram atrizes e alinharam as duas funções em prol da luta da classe das domésticas?

TA – Primeiro eu fiquei morrendo de pena ao saber que o Grupo está sem patrocínio. São mulheres tão fortes, mulheres com uma riqueza tão grande. Elas têm uma alegria imensa e transformam tudo isso em arte. Isso é fantástico. É preciso fazer algo para ajudá-las.

CTO – Ainda sobre a novela, inicialmente a trama teria o título de Três Marias e depois Marias do Lar. Acha que a mudança para Cheias de Charme dará mais foco na atividade artística das três Marias e não no trabalho doméstico?

Não, não é por isso. Primeiro eu vou contar uma história engraçada. A gente foi gravar uma cena na comunidade. Aí, chegou uma figurante toda bem vestida, toda maquiada, toda , toda. O pessoal da direção falou “minha filha, nós vamos gravar numa comunidade. Como você vem vestida assim?”. E a moça respondeu: “Eu sinto muito, mas é que eu sou cheia de charme”. A direção voltou para ela e disse “as pessoas que moram aqui também são cheias de charme. O charme delas é da forma que elas se vestem”. Então a novela vai falar disso: mulheres brasileiras que são cheias de charme e que a sociedade precisa olhar mais para elas. E isso que a novela vai mostrar.

CTO – Já conhecia o Teatro do Oprimido? O que achou da metodologia teatral desenvolvida por Augusto Boal em que oprimidos, oprimidas, negros, brancos, homossexuais, trabalhadoras domésticas, etc., podem falar de suas questões entrando em cena?

TA- Já conhecia sim e acho a coisa mais linda que o Boal fez. Ele deixou uma coisa maravilhosa para a gente. O legal do Teatro do Oprimido e dar voz as pessoas, jogar luz sobre as pessoas. Como faço para conhecer mais? Como é a formação?


Fonte: Cto

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