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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Taís Araújo mergulha no caótico do coletivo teatral em busca de identidade e autonomia artística

tais araujo foto bob sousa 20133 Taís Araújo mergulha no caótico do coletivo teatral em busca de identidade e autonomia artística
Por Miguel Arcanjo Prado
Fotos de Bob Sousa
 
Assim que Bob e eu chegamos ao CIT-Ecum percebemos que os primeiros preparativos para a estreia de Caixa de Areia, de Jô Bilac e dirigida por ele com Sandro Pamponet, na noite deste sábado (9), estão sendo tomados. É fim de tarde de sexta-feira (8). O som das buzinas do trânsito que para na descida da rua da Consolação invade a coxia do teatro, onde o contrarrega Marcel Formiga termina de pintar uma escada de preto.
Logo, Taís Araújo surge detrás do vidro da entrada, sob o sol forte, voltando do almoço. Eu mesmo vou abrir a porta. “Olha você aí, Miguel. Quanto tempo!”, ela diz, abrindo o sorriso. Corre para deixar a bolsa no camarim e volta pronta para nossa entrevista. Porque no teatro as coisas são bem mais simples. E verdadeiras. Não faz falta o glamour fabricado das estrelas da TV.
E Taís Araújo já entrou para a história da televisão. Prestes a completar 35 anos no próximo dia 25, aos 17 foi a primeira atriz negra a protagonizar uma novela, Xica da Silva, exibida pela Manchete em 1996 e depois sucesso em diversos países. Repetiu também o feito na Globo, em Da Cor do Pecado, folhetim de 2004.
Mas, aqui, ela é apenas uma atriz de teatro. Pede para subirmos ao café, no segundo andar, que está vazio, para o papo fluir com mais calma. Escolhe uma cadeira onde bate o sol. Assim começamos esta entrevista exclusiva.


Leia com toda a calma do mundo:
tais araujo foto bob sousa 20131 Taís Araújo mergulha no caótico do coletivo teatral em busca de identidade e autonomia artística Miguel Arcanjo Prado – Taís, nossa última conversa foi em 2007, quando você fazia O Método Gronholm, no Teatro das Artes, e Os Solidores, com o André Fusko, no Espaço dos Parlapatões, aqui em São Paulo...
Taís Araújo – É verdade, faz um tampão. Eu me lembro que você tinha acabado de chegar em São Paulo, né?
 
Pois é... E por que ficou tanto tempo longe de São Paulo?
Acho que foi por conta da correria, mesmo. A peça Amores, Perdas e Meus Vestidos só veio para Santo André, mas não fizemos São Paulo. Eu já estava com sete meses do João Vicente [filho da atriz com o marido, o ator Lázaro Ramos] e não podia viajar mais de avião. Mas eu nem me lembrava que fazia tanto tempo assim...
 
Qual sua relação com o teatro de São Paulo?

 Olha, sempre que venho, com exceção da peça que fiz com o Fusko, venho com atores do Rio. Eu sou carioca. Mas o que fica de São Paulo sempre é essa riqueza cultural. Tem teatro para todos os tipos de público. E aqui as pessoas assistem ao teatro e gostam. Acho que ir ao teatro faz parte dos paulistanos.
 
Como você foi parar nesta turma do Jô Bilac, que faz um teatro mais alternativo no Rio?
A aproximação rolou porque eu queria fazer um espetáculo antes de voltar a fazer novela [ a última da atriz foi Cheias de Charme, em 2012]. Aí, minha produtora me apresentou ao Jô Bilac. Eu já tinha visto peças dele e gostado muito. Ele me falou dessa história de Caixa de Areia, sobre uma crítica que reencontra sua história. O que mais me pegou foi que ele propôs ir escrevendo a peça conformes fôssemos ensaiando. No começo, só havia três páginas de texto.
 
E você gostou desse processo colaborativo?
Adorei. É importante fazer coisas diferentes. No nosso processo, todo mundo teve voz ativa. É caótico isso, mas também todo mundo é dono. Você ganha autonomia, exercita o lado criativo.
 
Você acha o diálogo no teatro mais livre que na TV? Olha, na televisão existe diálogo. Eu sempre criei meus personagens com ajuda do diretor, da figurinista... Não é tão solitário como muita gente pensa. Pelo menos para mim, eu sempre preciso do coletivo. A diferença do teatro é que aqui a voz de todo mundo tem o mesmo peso, não tem a hierarquia da TV.
 
Por que vocês escolheram o CIT-Ecum?
A nossa maior preocupação era ir para o teatro certo. A peça é intimista. Quem conhece as pecas do Jô Bilac já sabe o que vai encontrar. Esse teatro encaixa com a gente. Todo mundo fala muito bem daqui. Que é o teatro perfeito para nosso espetáculo.
 
Você vai ficar morando em São Paulo por um tempo?
Não. Venho toda sexta e volto toda segunda, porque aqui o horário de teatro no domingo é mais tarde, né? Vocês em São Paulo fazem às oito da noite. O Lázaro vai vir aos fins de semana sempre que puder e o João Vicente também.
 
Como é sua personagem?
 Faço a Marisa, que é mãe da Ana. A peça conta a história da Ana, personagem que a Julia Marini e a Cris Larin dividem. A Ana é uma crítica de
arte que passa a analisar a vida dela. E nisso volta às relações do passado. E a Marisa é o oposto da Ana. É verborrágica, não quer se aprofundar em nada, vive na superficialidade. Então, elas têm uma relação desencaixada. Quando é jovem, a Ana tem aversão pela mãe. Mas com a idade, lança um olhar mais generoso para a mãe. Começa a compreender.
 
Você que escolheu a personagem?
Na verdade eu não quis nada. Ela pulou para mim com os olhos fechados [risos]. Foi no processo. O Jô falou, “eu pensei de você ler hoje isso”, e ela foi se estabelecendo nos ensaios.
 
Qual a importância para você, uma atriz de televisão conhecida no mundo todo, fazer uma peça assim?
Fazer uma peça assim é muito importante para mim, Miguel. Um é que eu não estou acostumada a isso e isso é muito bom. Eu entro em contato com outro lugar, outro tipo de atores, outras realidades. Eu estou produzindo também. Compartilho isso com eles. É enriquecedor e delicioso o nosso processo caótico de liberdade.
 
Mas muitos por aí pensariam que você poderia estar fazendo um teatro comercial, enorme, e não um teatro pequeno, alternativo.
Mas eu faço justamente porque não acho pequeno. Acho este teatro que estou fazendo de um valor gigantesco. Eu tenho nos últimos dez anos intercalado teatro e novela. Estou querendo produzir mais teatro.
 
Por quê?
Por que quero trabalhar como atriz o resto da minha vida. Eu comecei muito cedo, Miguel, você sabe. Sempre fui muito receosa com minha profissão. Quando fiz 28, 29 anos, naquela época que a gente se conheceu, eu falei para mim: “É isso. É minha profissão. Tenho de investir cem por cento nela”. O teatro me ajuda a construir essa atriz que eu quero ser. Quero ser uma atriz diversa, que consiga brincar com vários gêneros. E o teatro sempre foi muito generoso comigo neste sentido.

tais araujo foto bob sousa 2013 2 Taís Araújo mergulha no caótico do coletivo teatral em busca de identidade e autonomia artística
 
 
Caixa de Areia Quando: Sexta e sábado, 21h, domingo, 20h. 70 min. Até 15/12/2013
Onde: CIT-Ecum (r. da Consolação, 1623, metrô Paulista, São Paulo, tel. 0/xx/11 3255-5922)
Quanto: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada)
Classificação etária: 14 anos
 
Fonte: R7

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